“As Marvels” era uma aposta das mais óbvias da Marvel Studios, dado o sucesso de “Capitã Marvel”, de 2019. Mas a coisa não é tão simples. Todos sabemos que Carol Denvers não é exatamente a personagem mais querida do MCU. Muitos atribuem esse baixo engajamento ao fato de ela ser mais poderosa do que o Superman, o que tiraria boa parte da empatia com a personagem, uma vez que, teoricamente, ela não corre perigo. Outros se influenciam pelo papel de Miss Simpatia às avessas que a intérprete da personagem, Brie Larson, desempenhou na vida real às vésperas do lançamento da estreia da heroína no cinema. Os fãs que estiveram em São Paulo na CCXP de 2018 que o digam. Então como trazer a Capitã Marvel como protagonista novamente (inevitável, afinal a bilheteria de mais de US$ 1 bilhão do primeiro filme não poderia ser ignorada)? Tentar torná-la mais simpática, em uma espécie de dinâmica de grupo.
Agora acompanhamos Carol Danvers (Brie Larson), também conhecida como Capitã Marvel, que recuperou sua identidade do tirânico Kree e se vingou da Inteligência Suprema. Mas as consequências não intencionais fazem com que Carol assuma o fardo de um universo totalmente desestabilizado. Quando seus deveres a enviam para um buraco de minhoca anômalo ligado a uma revolucionária Kree, seus poderes ficam emaranhados com os da sobrinha distante, agora astronauta da S.A.B.E.R., Capitã Monica Rambeau (Teyonah Parris) e a superfã de Nova Jersey Kamala Khan (Iman Vellani), a Ms. Marvel.
O intuito do roteiro assinado pela diretora Nia DaCosta, juntamente com Megan McDonnell e Elissa Karasikfoi criar uma equipe que gerassem imediata conexão com o público, assim como os Guardiões da Galáxia. Mas isso tornou a Capitã Marvel mais simpática? Sim, mas talvez não tanto quanto foi pretendido no argumento. Ela continua com superpoderes acima de qualquer ser no universo Marvel, mas, com o imbróglio dos poderes das três criado no script, a invulnerabilidade diminui consideravelmente deixando a personagem menos “apelona”, consequentemente descendo do salto. E é possível notar o esforço para desenhar a heroína de uma forma mais palatável, mesmo que o efeito pretendido não se dê em todos os momentos.
A direção de DaCosta (“A Lenda de Candyman”) busca uma coesão com a da dupla Anna Boden e Ryan Fleck no longa anterior, contudo, imprime mais organicidade. mesmo que em diversas partes siga a receita de bolo, ou, a velha fórmula Marvel que já não se mostra tão infalível assim. A ação intercalada com humor está ali, e em um momento específico a comicidade realmente toma conta, dando-nos a impressão de estarmos assistindo a uma sequência dos últimos filmes de Thor, dirigidos por Taika Waititi. ainda dentro da proposta de conferir mais leveza à Capitã.
Colocar a Capitã Marvel em um time deixou seu arco mais divertido por conta dinâmica entre as três personagens que é sem dúvidas o maior trunfo do filme, além do Nick Fury de Samuel L. Jackson, sempre roubando a cena. Carol tem que lidar com a pouca receptividade de Monica no primeiro momento, por motivo familiar (o que estabelece aquele conflito inicial quase obrigatório em formação de equipe de super-heróis), ao mesmo tempo que realiza o sonho de Kamala de estar trabalhando ao lado de sua “ídola”. Já a vilã Dar-Benn, interpretada por Zawe Ashton, não é das mais marcantes do MCU. Fica encaixada no clichê de vilões que o são por se deixarem consumir pela obstinação. Um Thanos em escala menor e com muito menos camadas.
“As Marvels” apresenta alguns incômodos na edição, e até na continuidade, que deixam a produção com aspecto de ter sido acabada às pressas, ou ter sofrido mudanças de última hora. Além disso, fica a sensação de se tratar de um episódio “filler”, muito mais para introduzir Monica Rambeau e Kamala Khan nas telonas, introdução essa que é feita sem dificultar a compreensão do espectador que não assistiu às séries “WandaVision” e “Ms. Marvel”, nas quais elas fizeram suas respectivas primeiras aparições. Até mesmo “Invasão Secreta”, de que o filme é continuação direta, não é obrigatória para que se entenda a trama, embora, obviamente, aqueles que assistiram às três séries tenham uma experiência mais completa. No mais, o filme é apenas um bom passatempo, como vários títulos da Marvel, mesmo na tão amada Saga do Infinito. E ligeiro, apenas 1h45, a menor duração de um título do MCU. Como de costume há uma cena pós-créditos (na verdade entre os créditos), e essa pode ser de suma importância para o futuro da franquia.
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